POR QUE FALAR SOBRE O ESTRESSE HÍDRICO?
ArtigosDiante de tantas calamidades causadas pelas mudanças climáticas globais, escrever sobre o estresse hídrico é trazer para a pauta da Semana da Água um problema que todas as instituições e a própria sociedade precisam estar atentas, para podermos buscar soluções adaptativas que diminuam os riscos e danos que enfrentaremos.
Por isso, é importante conhecermos e divulgarmos a definição de estresse hídrico, que considera tanto a situação em que a demanda por água excede a oferta disponível, causando prejuízos ao abastecimento, quanto impactos negativos sobre o ambiente. Essa condição também é descrita quando a disponibilidade de água é menor que 1000 m³ por pessoa por ano, indicando uma insuficiência para atender às necessidades básicas da população e do ecossistema. Além disso, destaca-se a gravidade da distribuição desigual de água doce no mundo, com muitos países enfrentando problemas graves de falta de água potável.
A vida na Terra não sobrevive sem água e, a cada dia que passa, esse risco aumenta, (WRI, 2021), conforme aponta a ONG World Resources Institute (WRI), que através de um monitoramento e mapeamento global, analisou os riscos hídricos aos quais a sociedade está exposta e demonstrou que mais de 1 bilhão de pessoas já vivem atualmente em regiões de escassez de água e cerca de 3,5 bilhões podem sofrer escassez de água até 2025. Não diferente no cenário mundial, o Brasil, segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento – ANA (2020), tem cerca de 22 milhões de pessoas afetadas por secas, das quais 94% vivem na região Nordeste do país.
No Brasil, a distribuição e a gestão dos recursos hídricos é desigual. Cerca de 45% da população residente nas grandes cidades enfrentam de riscos médios a extremos de estresse hídrico, incluindo São Paulo. Isso se deve, em parte, à distribuição desigual dos recursos hídricos disponíveis à população e à gestão inadequada destes recursos (WRI, 2021).
Em 2014, o Estado de São Paulo sentiu a gravidade da falta d’água. Em consequência de uma variação climática, o Estado passou então pela pior crise hídrica dos últimos 80 anos.
O estresse hídrico é um problema complexo influenciado por vários fatores, que incluem a distribuição e gestão desigual dos recursos hídricos, a variabilidade climática e os efeitos do desmatamento, que podem refletir em consequências significativas para a população e o meio ambiente.
A variabilidade climática afeta a oferta de água e pode variar significativamente de uma estação para outra e de um ano para outro, expondo as cidades a períodos de seca severa ou chuvas intensas e excepcionais, que causam perdas materiais e trazem sofrimento para as pessoas.
O desmatamento é um dos principais fatores causadores das mudanças climáticas, que reflete na alteração dos ciclos hidrológicos. Um exemplo desse impacto negativo vem da perda de cobertura vegetal na Amazônia. Por ser um agente regulador dos movimentos de massas de ar e água, o efeito desse impacto afeta a disponibilidade de água em São Paulo, porque interfere na função da floresta como uma “bomba de água” que gera umidade, essencial para a precipitação na região. A perda de floresta afeta não apenas a quantidade de chuva, mas também a sua distribuição ao longo do ano, que de modo direto pode induzir a falta d’água e trazer estresse hídrico, com a redução significativa da produção agrícola, a indústria, e o setor elétrico, uma vez que 50% da energia elétrica do Brasil provêm de hidroelétricas.
As soluções propostas para lidar com o estresse hídrico envolvem uma combinação de medidas tecnológicas, de gestão e de políticas públicas. Isso inclui a modernização da infraestrutura existente para reduzir perdas por vazamentos e promover o uso eficiente da água; a promoção de tecnologias de reuso de água para aumentar a disponibilidade de água para diferentes usos, sem aumentar a pressão sobre os recursos naturais;, além de desenvolver e expandir a “infraestrutura verde”, como a implantação de parques e áreas verdes, com o intuito de aumentar a infiltração de água no solo, reduzindo a poluição e melhorando a qualidade da água.
Entre as possíveis soluções, destacam-se a educação como agente transformador, bem como a promoção da percepção e sensibilização ambiental, possibilitando que a informação modifique os maus hábitos, convertendo-os em ações que motivem e incentivem os cidadãos a desenvolver boas práticas de conservação, além do estabelecimento, junto aos governos, de políticas e regulamentações que promovam a conservação de água, o reuso e a adoção de tecnologias sustentáveis, bem como investimentos em soluções de gestão de água eficazes.
Bibliografia
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil 2020: informe anual. Brasília: ANA, 2020. Disponível em:
<http://conjuntura.ana.gov.br/static/media/conjuntura-completo.23309814.pdf>. Acesso em: 10/03/2024.
UNESCO. Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2023: parcerias e cooperação para a água; resumo executivo. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000384657_por Acesso em: 10/03/2024.
UNESCO World Water Assessment Programme. Relatório mundial das Nações Unidas sobre desenvolvimento dos recursos hídricos 2021: o valor da água; fatos e dados. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000375751_por Acesso em: 10/03/2024.
World Resources Institute (WRI). Três Mapas que Ajudam a Explicar a Crise da Água em São Paulo, Brasil. Disponível em: (https://www.wri.org/insights/tres-mapas-que-ajudam-explicar-crise-da-agua-em-sao-paulo-brasil). Acesso em: 10/03/2024.
World Resources Institute (WRI). Ensuring Prosperity in a Water-stressed World. [S.l.]: World Resources Institute – WRI, 2021. Disponível em: https://www.wri.org/water”. Acesso em: 10/03/2024.
